Educação no
Brasil: a História das rupturas
José Luiz de Paiva Bello (2001)
Introdução
A História da Educação Brasileira não é uma
História difícil de ser estudada e compreendida. Ela evolui em rupturas
marcantes e fáceis de serem observadas.
A primeira grande ruptura travou-se com a
chegada mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo. Não podemos deixar
de reconhecer que os portugueses trouxeram um padrão de educação próprio da
Europa, o que não quer dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam
características próprias de se fazer educação. E convém ressaltar que a
educação que se praticava entre as populações indígenas não tinha as marcas
repressivas do modelo educacional europeu.
Num programa de entrevista na televisão o
indigenísta Orlando Villas Boas contou um fato observado por ele numa aldeia
Xavante que retrata bem a característica educacional entre os índios: Orlando
observava uma mulher que fazia alguns potes de barro. Assim que a mulher
terminava um pote seu filho, que estava ao lado dela, pegava o pote pronto e o
jogava ao chão quebrando. Imediatamente ela iniciava outro e, novamente, assim
que estava pronto, seu filho repetia o mesmo ato e o jogava no chão. Esta cena
se repetiu por sete potes até que Orlando não se conteve e se aproximou da
mulher Xavante e perguntou por que ela deixava o menino quebrar o trabalho que
ela havia acabado de terminar. No que a mulher índia respondeu: "- Porque
ele quer."
Podemos também obter algumas noções de como era
feita a educação entre os índios na série Xingu, produzida pela extinta Rede Manchete de Televisão. Neste
seriado podemos ver crianças indígenas subindo nas estruturas de madeira das
construções das ocas, numa altura inconcebivelmente alta.
Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não
trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade européia; trouxeram
também os métodos pedagógicos.
Este método funcionou absoluto durante 210
anos, de 1549 a
1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a
expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia alguma coisa muito bem
estruturada em termos de educação o que se viu a seguir foi o mais absoluto
caos. Tentou-se as aulas régias, o subsídio literário, mas o caos
continuou até que a Família Real, fugindo de Napoleão na Europa, resolve
transferir o Reino para o Novo Mundo.
Na verdade não se conseguiu implantar um
sistema educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família Real
permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para preparar terreno para
sua estadia no Brasil D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito
e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais
marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores o
Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter
uma complexidade maior.
A educação, no entanto, continuou a ter uma
importância secundária. Basta ver que, enquanto nas colônias espanholas já
existiam muitas universidades, sendo que em 1538 já existia a Universidade de
São Domingos e em 1551 a
do México e a de Lima, a nossa primeira Universidade só surgiu em 1934, em São Paulo.
Por todo o Império, incluindo D. João VI, D.
Pedro I e D. Pedro II, pouco se fez pela educação brasileira e muitos
reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclamação da República tentou-se
várias reformas que pudessem dar uma nova guinada, mas se observarmos bem, a
educação brasileira não sofreu um processo de evolução que pudesse ser
considerado marcante ou significativo em termos de modelo.
Até os dias de hoje muito tem se mexido no
planejamento educacional, mas a educação continua a ter as mesmas
características impostas em todos os países do mundo, que é a de manter o
"status quo" para aqueles que freqüentam os bancos escolares.
Concluindo podemos dizer que a Educação
Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente observável.
E é isso que tentamos passar neste texto.
Os períodos foram divididos a partir das
concepções do autor em termos de importância histórica.
Se considerarmos a História como um processo em
eterna evolução não podemos considerar este trabalho como terminado. Novas
rupturas estão acontecendo no exato momento em que esse texto está sendo lido.
A educação brasileira evolui em saltos desordenados, em diversas direções.
Período Jesuítico (1549 - 1759)
A educação indígena foi interrompida com a
chegada dos jesuítas. Os primeiros chegaram ao território brasileiro em março
de 1549. Comandados pelo Padre Manoel
de Nóbrega, quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola
elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos. Irmão Vicente
tornou-se o primeiro professor nos moldes europeus, em terras brasileiras, e
durante mais de 50 anos dedicou-se ao ensino e a propagação da fé religiosa.
No Brasil os jesuítas se dedicaram à pregação
da fé católica e ao trabalho educativo. Perceberam que não seria possível
converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador
a obra jesuítica estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos após a
chegada, já era composta por cinco escolas de instrução elementar (Porto
Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três
colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).
Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não
trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade européia; trouxeram
também os métodos pedagógicos. Todas as escolas jesuítas eram regulamentadas
por um documento, escrito por Inácio de Loiola, o Ratio Studiorum. Eles
não se limitaram ao ensino das primeiras letras; além do curso elementar
mantinham cursos de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso de
Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes.
No curso de Letras estudava-se Gramática Latina, Humanidades e Retórica; e no
curso de Filosofia estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências
Físicas e Naturais.
Este modelo funcionou absoluto durante 210
anos, de 1549 a
1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a
expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia algo muito bem
estruturado, em termos de educação, o que se viu a seguir foi o mais absoluto
caos.
No momento da expulsão os jesuítas tinham 25
residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de seminários menores
e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas
da Companhia de Jesus. A educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande
ruptura histórica num processo já implantado e consolidado como modelo
educacional.
Período Pombalino (1760 - 1808)
Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da
Bahia, 53 de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do Pará. Com eles levaram
também a organização monolítica baseada no Ratio Studiorum.
Desta ruptura, pouca coisa restou de prática
educativa no Brasil. Continuaram a funcionar o Seminário Episcospal, no Pará, e
os Seminários de São José e São Pedro, que não se encontravam sob a jurisdição
jesuítica; a Escola de Artes e Edificações Militares, na Bahia, e a Escola de
Artilharia, no Rio de Janeiro.
Os jesuítas foram expulsos das colônias em
função de radicais diferenças de objetivos com os dos interesses da Corte.
Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o proselitismo e o noviciado, Pombal
pensava em reerguer
Portugal da decadência que se encontrava diante de outras
potências européias da época. Além disso, Lisboa passou por um terremoto que
destruiu parte significativa da cidade e precisava ser reerguida. A educação
jesuítica não convinha aos interesses comerciais emanados por Pombal. Ou seja,
se as escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses
da fé, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos interesses do
Estado.
Através do alvará de 28 de junho de 1759, ao
mesmo tempo em que suprimia as escolas jesuíticas de Portugal e de todas as
colônias, Pombal criava as aulas régias
de Latim, Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de Estudos que só passou a
funcionar após o afastamento de Pombal. Cada aula régia era autônoma e isolada,
com professor único e uma não se articulava com as outras.
Portugal logo percebeu que a educação no Brasil
estava estagnada e era preciso oferecer uma solução. Para isso instituiu o
"subsídio literário"
para manutenção dos ensinos primário e médio. Criado em 1772 o “subsídio” era
uma taxação, ou um imposto, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o vinagre
e a aguardente. Além de exíguo, nunca foi cobrado com regularidade e os
professores ficavam longos períodos sem receber vencimentos a espera de uma
solução vinda de Portugal.
Os professores geralmente não tinham preparação
para a função, já que eram improvisados e mal pagos. Eram nomeados por
indicação ou sob concordância de bispos e se tornavam "proprietários"
vitalícios de suas aulas régias.
O resultado da decisão de
Pombal foi que, no princípio do século XIX, a educação brasileira estava
reduzida a praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado e nada que
pudesse chegar próximo deles foi organizado para dar continuidade a um trabalho
de educação.
Período Joanino (1808 – 1821)
A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma
nova ruptura com a situação anterior. Para atender as necessidades de sua
estadia no Brasil, D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e
Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante
em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores, o Brasil foi
finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma
complexidade maior. O surgimento da imprensa permitiu que os fatos e as idéias
fossem divulgados e discutidos no meio da população letrada, preparando terreno
propício para as questões políticas que permearam o período seguinte da
História do Brasil.
A educação, no entanto, continuou a ter uma
importância secundária. Para o professor Lauro de Oliveira Lima (1921- ) "a 'abertura dos portos', além do
significado comercial da expressão, significou a permissão dada aos
'brasileiros' (madereiros de pau-brasil) de tomar conhecimento de que existia,
no mundo, um fenômeno chamado civilização e cultura".
Período
Imperial (1822
- 1888)
D. João VI volta a Portugal em 1821. Em 1822
seu filho D. Pedro I proclama a Independência do Brasil e, em 1824, outorga a
primeira Constituição brasileira.
O Art. 179 desta Lei Magna dizia
que a "instrução primária é gratuita para todos os cidadãos".
Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de
professores institui-se o Método
Lancaster, ou do "ensino mútuo", onde um aluno treinado
(decurião) ensinava um grupo de dez alunos (decúria) sob a rígida vigilância de
um inspetor.
Em 1826 um Decreto institui quatro graus de
instrução: Pedagogias (escolas
primárias), Liceus, Ginásios e Academias. Em 1827 um projeto de lei propõe a criação de
pedagogias em todas as cidades e vilas, além de prever o exame na seleção de
professores, para nomeação. Propunha ainda a abertura de escolas para meninas.
Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as províncias passariam a
ser responsáveis pela administração do ensino primário e secundário. Graças a
isso, em 1835, surge a primeira Escola Normal do país, em Niterói. Se houve
intenção de bons resultados não foi o que aconteceu, já que, pelas dimensões do
país, a educação brasileira perdeu-se mais uma vez, obtendo resultados pífios.
Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joaquim, na cidade do
Rio de Janeiro, é criado o Colégio
Pedro II, com o objetivo de se tornar um modelo pedagógico para o curso
secundário. Efetivamente o Colégio
Pedro II não conseguiu se organizar até o fim do Império para atingir
tal objetivo.
Até a Proclamação
da República, em 1889 praticamente nada se fez de concreto pela educação
brasileira. O Imperador D. Pedro II, quando perguntado que profissão escolheria
não fosse Imperador, afirmou que gostaria de ser "mestre-escola".
Apesar de sua afeição pessoal pela tarefa educativa, pouco foi feito, em sua
gestão, para que se criasse, no Brasil, um sistema educacional.
Período
da Primeira República (1889 - 1929)
A República proclamada adotou o modelo político
americano baseado no sistema presidencialista. Na organização escolar
percebe-se influência da filosofia positivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como princípios orientadores
a liberdade e laicidade do ensino, como também a gratuidade da escola primária.
Estes princípios seguiam a orientação do que estava estipulado na Constituição
brasileira.
Uma das intenções desta Reforma era transformar
o ensino em formador de alunos para os cursos superiores e não apenas
preparador. Outra intenção era substituir a predominância literária pela
científica.
Esta Reforma foi bastante criticada: pelos
positivistas, já que não respeitava os princípios pedagógicos de Comte; pelos
que defendiam a predominância literária, já que o que ocorreu foi o acréscimo
de matérias científicas às tradicionais, tornando o ensino enciclopédico.
O Código
Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica entre as matérias e retira a
biologia, a sociologia e a moral, acentuando, assim, a parte literária em
detrimento da científica.
A Reforma
Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o curso secundário se tornasse
formador do cidadão e não como simples promotor a um nível seguinte. Retomando
a orientação positivista, prega a liberdade de ensino, entendendo-se como a
possibilidade de oferta de ensino que não seja por escolas oficiais, e de
freqüência. Além disso, prega ainda a abolição do diploma em troca de um
certificado de assistência e aproveitamento e transfere os exames de admissão
ao ensino superior para as faculdades. Os resultados desta Reforma foram desastrosos
para a educação brasileira.
Num período complexo da História do Brasil
surge a Reforma João Luiz Alves
que introduz a cadeira de Moral e Cívica com a intenção de tentar combater os
protestos estudantis contra o governo do presidente Arthur Bernardes.
A década de vinte foi marcada por diversos
fatos relevantes no processo de mudança das características políticas
brasileiras. Foi nesta década que ocorreu o Movimento dos 18 do Forte (1922), a
Semana de Arte Moderna (1922), a fundação do Partido Comunista (1922), a
Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927).
Além disso, no que se refere à educação, foram
realizadas diversas reformas de abrangência estadual, como as de Lourenço
Filho, no Ceará, em 1923, a
de Anísio Teixeira, na Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario Casassanta,
em Minas, em 1927, a
de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928 e a
de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928.
Período da Segunda República (1930 - 1936)
A Revolução de 30 foi o marco referencial para
a entrada do Brasil no mundo capitalista de produção. A acumulação de capital,
do período anterior, permitiu com que o Brasil pudesse investir no mercado
interno e na produção industrial. A nova realidade brasileira passou a exigir uma
mão-de-obra especializada e para tal era preciso investir na educação. Sendo
assim, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em 1931,
o governo provisório sanciona decretos organizando o ensino secundário e as
universidades brasileiras ainda inexistentes. Estes Decretos ficaram conhecidos
como "Reforma Francisco Campos".
Em 1932 um grupo de
educadores lança à nação o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido
por Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados educadores da época.
Em 1934 a nova Constituição (a segunda da
República) dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de todos,
devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos.
Ainda em 1934, por iniciativa do governador
Armando Salles Oliveira, foi criada a Universidade de São Paulo. A primeira a
ser criada e organizada segundo as normas do Estatuto das Universidades
Brasileiras de 1931.
Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito
Federal, Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no atual
município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade de Educação na qual se situava o
Instituto de Educação.
Período do Estado Novo (1937 - 1945)
Refletindo tendências fascistas é outorgada uma
nova Constituição em 1937. A
orientação político-educacional para o mundo capitalista fica bem explícita em
seu texto sugerindo a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para as
novas atividades abertas pelo mercado. Neste sentido a nova Constituição
enfatiza o ensino pré-vocacional e profissional.
Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o
ensino sejam livres à iniciativa individual e à associação ou pessoas coletivas
públicas e particulares, tirando do Estado o dever da educação. Mantém ainda a
gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário Também dispõe como
obrigatório o ensino de trabalhos manuais em todas as escolas normais,
primárias e secundárias.
No contexto político o estabelecimento do
Estado Novo, segundo a historiadora Otaíza Romanelli, faz com que as discussões
sobre as questões da educação, profundamente ricas no período anterior, entrem
"numa espécie de hibernação". As conquistas do movimento
renovador, influenciando a Constituição de 1934, foram enfraquecidas nessa nova
Constituição de 1937. Marca uma distinção entre o trabalho intelectual, para as
classes mais favorecidas, e o trabalho manual, enfatizando o ensino
profissional para as classes mais desfavorecidas.
Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo
Capanema, são reformados alguns ramos do ensino. Estas Reformas receberam o
nome de Leis Orgânicas do Ensino,
e são compostas por Decretos-lei que criam o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI e valoriza o
ensino profissionalizante.
O ensino ficou composto, neste período, por
cinco anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial,
podendo ser na modalidade clássico ou científico. O ensino colegial perdeu o
seu caráter propedêutico, de preparatório para o ensino superior, e passou a se
preocupar mais com a formação geral. Apesar dessa divisão do ensino secundário,
entre clássico e científico, a predominância recaiu sobre o científico,
reunindo cerca de 90% dos alunos do colegial.
Período da Nova República (1946 - 1963)
O fim do Estado Novo consubstanciou-se na
adoção de uma nova Constituição de cunho liberal e democrático. Esta nova
Constituição, na área da Educação, determina a obrigatoriedade de se cumprir o
ensino primário e dá competência à União para legislar sobre diretrizes e bases
da educação nacional. Além disso, a nova Constituição fez voltar o preceito de
que a educação é direito de todos, inspirada nos princípios proclamados
pelos Pioneiros, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova,
nos primeiros anos da década de 30.
Ainda em 1946 o então Ministro Raul Leitão da
Cunha regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal, além de criar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial -
SENAC, atendendo as mudanças exigidas pela sociedade após a Revolução de 1930.
Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna
de 1946, o Ministro Clemente Mariani, cria uma comissão com o objetivo de
elaborar um anteprojeto de reforma geral da educação nacional. Esta comissão,
presidida pelo educador Lourenço Filho, era organizada em três subcomissões:
uma para o Ensino Primário, uma para o Ensino Médio e outra para o Ensino
Superior. Em novembro de 1948 este anteprojeto foi encaminhado à Câmara
Federal, dando início a uma luta ideológica em torno das propostas
apresentadas. Num primeiro momento as discussões estavam voltadas às
interpretações contraditórias das propostas constitucionais. Num momento
posterior, após a apresentação de um substitutivo do Deputado Carlos Lacerda,
as discussões mais marcantes relacionaram-se à questão da responsabilidade do
Estado quanto à educação, inspirados nos educadores da velha geração de 1930, e
a participação das instituições privadas de ensino.
Depois de 13 anos de acirradas discussões foi
promulgada a Lei 4.024, em 20 de
dezembro de 1961, sem a pujança do anteprojeto original, prevalecendo as
reivindicações da Igreja Católica e dos donos de estabelecimentos particulares
de ensino no confronto com os que defendiam o monopólio estatal para a oferta
da educação aos brasileiros.
Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação
Nacional foi o fato marcante, por outro lado muitas iniciativas marcaram
este período como, talvez, o mais fértil da História da Educação no Brasil: em 1950, em Salvador, no Estado da
Bahia, Anísio Teixeira inaugura o Centro
Popular de Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início
a sua idéia de escola-classe e escola-parque; em 1952, em Fortaleza, Estado do
Ceará, o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática baseada nas
teorias científicas de Jean Piaget: o Método
Psicogenético; em 1953
a educação passa a ser administrada por um Ministério
próprio: o Ministério da Educação e
Cultura; em 1961 a
tem inicio uma campanha de alfabetização, cuja didática, criada pelo
pernambucano Paulo Freire, propunha alfabetizar em 40 horas adultos
analfabetos; em 1962 é criado o Conselho
Federal de Educação, que substitui o Conselho Nacional de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação e, ainda em 1962 é criado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização,
pelo Ministério da Educação e Cultura,
inspirado no Método Paulo Freire.
Período do Regime Militar (1964 - 1985)
Em 1964, um golpe militar aborta todas as
iniciativas de se revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto de que as
propostas eram "comunizantes e subversivas".
O Regime Militar
espelhou na educação o caráter anti-democrático de sua proposta ideológica de
governo: professores foram presos e demitidos; universidades foram invadidas;
estudantes foram presos e feridos, nos confronto com a polícia, e alguns foram
mortos; os estudantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes proibida
de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores.
Neste período deu-se a grande expansão das
universidades no Brasil. Para acabar com os "excedentes" (aqueles que
tiravam notas suficientes para serem aprovados, mas não conseguiam vaga para
estudar), foi criado o vestibular classificatório.
Para erradicar o
analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL,
aproveitando-se, em sua didática, do expurgado Método Paulo Freire. O MOBRAL
propunha erradicar o analfabetismo no Brasil... Não conseguiu. E, entre
denúncias de corrupção, acabou por ser extinto e, no seu lugar criou-se a
Fundação Educar.
É no período mais cruel da ditadura militar,
onde qualquer expressão popular contrária aos interesses do governo era
abafada, muitas vezes pela violência física, que é instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, em 1971. A característica mais marcante desta Lei
era tentar dar a formação educacional um cunho profissionalizante.
Período da Abertura Política (1986
- 2003)
No fim do Regime Militar a discussão sobre as
questões educacionais já haviam perdido o seu sentido pedagógico e assumido um
caráter político. Para isso contribuiu a participação mais ativa de pensadores
de outras áreas do conhecimento que passaram a falar de educação num sentido
mais amplo do que as questões pertinentes à escola, à sala de aula, à didática,
à relação direta entre professor e estudante e à dinâmica escolar em si mesma.
Impedidos de atuarem em suas funções, por questões políticas durante o Regime
Militar, profissionais de outras áreas, distantes do conhecimento pedagógico,
passaram a assumir postos na área da educação e a concretizar discursos em nome
do saber pedagógico.
No bojo da nova Constituição, um Projeto de Lei
para uma nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal, pelo Deputado Octávio
Elísio, em 1988. No ano seguinte o Deputado Jorge Hage enviou à Câmara um
substitutivo ao Projeto e, em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo
Projeto que acabou por ser aprovado em dezembro de 1996, oito anos após o
encaminhamento do Deputado Octávio Elísio.
Neste período, do fim do Regime Militar aos
dias de hoje, a fase politicamente marcante na educação, foi o trabalho do economista
e Ministro da Educação Paulo Renato de Souza. Logo no início de sua gestão,
através de uma Medida Provisória extinguiu o Conselho Federal de Educação e
criou o Conselho Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da Educação e
Cultura. Esta mudança tornou o Conselho menos burocrático e mais político.
Mesmo que possamos não concordar com a forma
como foram executados alguns programas, temos que reconhecer que, em toda a
História da Educação no Brasil, contada a partir do descobrimento, jamais houve
execução de tantos projetos na área da educação numa só administração.
O mais contestado deles foi
o Exame Nacional de Cursos e o seu "Provão", onde os alunos das
universidades têm que realizar uma prova ao fim do curso para receber seus
diplomas. Esta prova, em que os alunos podem simplesmente assinar a ata de
presença e se retirar sem responder nenhuma questão, é levada em consideração
como avaliação das instituições. Além do mais, entre outras questões, o exame
não diferencia as regiões do país.
Até os dias de hoje muito tem se mexido no
planejamento educacional, mas a educação continua a ter as mesmas
características impostas em todos os países do mundo, que é mais o de manter o
"status quo", para aqueles que freqüentam os bancos escolares,
e menos de oferecer conhecimentos básicos, para serem aproveitados pelos
estudantes em suas vidas práticas.
Concluindo podemos dizer que a História da
Educação Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente
observável. Ela é feita em rupturas marcantes, onde em cada período determinado
teve características próprias.
A bem da verdade, apesar de toda essa evolução
e rupturas inseridas no processo, a educação brasileira não evoluiu muito no
que se refere à questão da qualidade. As avaliações, de todos os níveis, estão
priorizadas na aprendizagem dos estudantes, embora existam outros critérios. O
que podemos notar, por dados oferecidos pelo próprio Ministério da Educação, é
que os estudantes não aprendem o que as escolas se propõem a ensinar. Somente
uma avaliação realizada em 2002 mostrou que 59% dos estudantes que concluíam a
4ª série do Ensino Fundamental não sabiam ler e escrever.
Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais
estejam sendo usados como norma de ação, nossa educação só teve caráter nacional
no período da Educação jesuítica. Após isso o que se presenciou foi o caos e
muitas propostas desencontradas que pouco contribuíram para o desenvolvimento
da qualidade da educação oferecida.
É provável que estejamos próximos de uma nova
ruptura. E esperamos que ela venha com propostas desvinculadas do modelo
europeu de educação, criando soluções novas em respeito às características
brasileiras. Como fizeram os países do bloco conhecidos como Tigres Asiáticos,
que buscaram soluções para seu desenvolvimento econômico investindo em educação. Ou como fez
Cuba que, por decisão política de governo, erradicou o analfabetismo em apenas
um ano e trouxe para a sala de aula todos os cidadãos cubanos.
Na evolução da História da Educação brasileira
a próxima ruptura precisaria implantar um modelo que fosse único, que atenda às
necessidades de nossa população e que seja eficaz.
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de Oliveira. Estórias da educação no Brasil: de Pombal a Passarinho. 3.
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PILLETTI, Nelson. Estrutura e funcionamento do ensino de 1o
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