SÉCULO XIX E INÍCIO DO XX: UM ESTUDO ACERCA DO DO COLÉGIO NOSSA SENHORA DE SION EM CAMPANHA (MG)
Ana Cristina Pereira Lage
Mestranda em História da Educação – UNICAMP
Orientador: Dr. José Claudinei Lombardi
Este trabalho pretende analisar alguns aspectos referentes à instalação das congregações religiosas femininas de intuito educacional no Brasil , a partir da segunda metade do século XIX . Tenta-se traçar em linhas gerais os principais aspectos das idéias ultramontanas da Igreja Católica , bem como os interesses da política liberal no momento da passagem do Império à República brasileira. O ultramontanismo e o liberalismo são fundamentais para compreender as relações entre a Igreja e o Estado brasileiros no período estudado e estão intimamente relacionados com a implantação das escolas femininas mantidas pelas congregações católicas.
Tendo traçado este panorama político e religioso brasileiro, será feito um apanhado da presença das congregações femininas estrangeiras no Brasil, focalizando o território de Minas Gerais e, especificamente, a chegada da Congregação de Nossa Senhora de Sion na cidade de Campanha ( sul de Minas Gerais) no início do século XX. O Colégio Nossa Senhora de Sion de Campanha (1904-1965), foi fundado para suprir a necessidade de implantação de uma escola feminina confessional para a elite sul - mineira. Os anos iniciais da instalação da escola foram cruciais para o seu desenvolvimento. O discurso da implantação do Colégio passa pelas discussões relativas à necessidade de educação feminina enquanto preparação de “futuras mães e esposas”, aptas ao desenvolvimento da nação brasileira.
O objetivo deste trabalho é discutir alguns aspectos relativos a este universo escolar feminino no início do século XX e o seu diálogo com o discurso político e modernizador vigente. Tal indagação faz parte do levantamento parcial de fontes e discussões em minha pesquisa de mestrado em História da Educação pela UNICAMP.
As fontes para o estudo aqui pretendido são diversas. No acervo pertencente ao Centro de Memória Cultural do Sul de Minas ( UEMG/ Campus da Campanha), encontram-se atas de notas, relações de exames prestados e matrículas das ex-alunas e
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diversas fotografias . Há ainda documentos referentes ao Colégio no Centro de Estudos
Monsenhor Lefort, omo arquivos de jornais1 mantido pela Prefeitura Municipal da Campanha. Houve também a consulta aos documentos particulares da referida Congregação. Para pensar as questões do Ultramontanismo, pode-se recorrer aos documentos papais do século XIX, disponíveis na internet, como as encíclicas Mirari-vos ( Gregório XVI, 1832), Qui Pluribus ( Pio IX, 1846) e Quanta Cura ( Pio IX, 1864). Além dessas fontes, pretende-se buscar documentos relativos às relações dos poderes públicos com relação à educação e, em especial ao Colégio investigado, utilizando os relatórios dos presidentes de Província ou Estado, disponíveis pela internet.
Para trabalhar as relações entre a Igreja e o Estado no século XIX, torna-se necessário levar em consideração algumas questões relativas às idéias presentes neste momento, principalmente às questões do “liberalismo” brasileiro. Segundo Manoel (1996), havia uma ambigüidade na oligarquia brasileira pois a nossa história imperial foi composta por uma “acomodação de conflitos”. Enquanto na Europa, especificamente na França, a consolidação da burguesia exigia um movimento revolucionário (Revolução Francesa), no Brasil este processo se deu pelo acordo, pela ambigüidade e pela acomodação. O projeto liberal no Brasil Império foi completamente diferente dos demais lugares do mundo.
Por não representar um momento decisivo da luta burguesa para superar o mundo aristocrático e rural, mas significando um reordenamento da própria oligarquia ao redor de uma nova ordenação política, não provocou exclusões e eliminações, mas cooptações e inclusões. Na esfera religiosa e educacional a conciliação se manifestou fortemente.( Manoel, 1996, p. 17)
Ainda para este mesmo autor, no Brasil do século XIX as idéias católicas apresentavam uma concepção de sociedade, poder político e relações familiares que eram convenientes à forma de vida da oligarquia brasileira. Mesmo que a educação liberal reforçasse o caráter individualista e o civismo como força para a implantação de
uma “Nação”, a educação católica não fugia aos interesses da oligarquia, já que esta sempre ensinou ao católico ser ordeiro, obediente e respeitador da ordem constituída.
O século XIX também é um período de urbanização crescente. Junto às novas idéias vindas da Europa ( liberalismo, positivismo, darwinismo), aporta aqui também uma nova visão de modernização. Neste contexto, a oligarquia percebera que não
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conseguiria mais manter suas filhas “ignorantes” e isoladas, como era costume até então.
1 Jornais “ O Monitor Sul Mineiro” e “ A Campanha”
A partir de 1834 a educação primária e secundária foi deixada a cargo dos governos provinciais. Mas as províncias não tinham recursos necessários. Os investimentos sempre foram precários, principalmente com relação ao ensino secundário.
A partir de 1850, quando os ideais do liberalismo ganharam maior força no Brasil, as autoridades públicas passaram a defender a completa liberalização do sistema escolar, retirando do Estado as responsabilidades da Educação e transferindo tal responsabilidade para a iniciativa privada. Já que o investimento das províncias na educação era muito pequeno, a solução encontrada pela elite para educar suas filhas era contratar professores para educar as jovens em suas próprias residências ou enviá-las para estudar nos Colégios Internos. Tais Colégios eram mantidos, na maioria das vezes, pelas diversas congregações católicas que aqui chegaram na segunda metade do século XIX. Segundo Manoel ( 1996) as primeira freiras que chegaram com este intuito educacional no Brasil, foram as Irmãs de São José de Chamberry, em São Paulo , no ano de 1859.
Na província de Minas Gerais, encontramos no Relatório do Presidente da Província de 1871, a necessidade de implantação de :
...Alguns collegios, em que as meninas aprendão á ler, escrever, grammatica da lingua nacional, arithmetica, desenho, musica, historia, religião e prendas domesticas: em que, á par da instrucção e da educação adquirão o habito do trabalho para ganharem por elle honestamente a vida e se habilitarem para o cumprimento de seus deveres de filhas, esposas e mães: collegios assim estabelecidos são indispensaveis, mormente para recolherem e educarem as orphãs, as desvalidas e as beneficiadas por manumissão, que seus patronos não queirão educar.(...)
Estes collegios não são pesados á provincia: sendo bem dirigidos, no fim de poucos annos de estabelecidos auferem do producto das pensões das meninas, filhas de pais abastados, e do trabalho de todas as alumnas reunidas a necessaria receita para sua sustentação, ás vezes com sobra, porque deve-se contar com os donativos e esmolas particulares, que apparecem com a manifestação de suas vantagens.
Temos exemplos no collegio de Marianna e nos do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. ...( Carvalho, 02/03/1871, p.36)
A criação destes colégios estaria intimamente ligada às Congregações religiosas e receberia uma subvenção da província. Neste mesmo relatório, temos a informação de que havia uma subvenção da província para o Colégio das Irmãs de Caridade de
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Mariana (MG), com 176 alunas e para as irmãs de Diamantina (MG), com 145 alunas. Percebe-se que estas instituições abrigavam dois tipos de alunas: filhas de pais abastados, que eram preparadas para a “profissão” de esposa e mãe ; meninas órfãs ou
muito pobres que necessitavam ser “adestradas” de forma adequada para o mundo do trabalho. Era uma necessidade que vinculava à modernização da sociedade, à higienização da família e à construção da cidadania dos jovens. Havia também uma preocupação em afastar do conceito de trabalho toda a carga de degradação que lhe era associada por causa da escravidão e em vinculá-lo à ordem e progresso, o que levou os condutores da sociedade a arregimentar também as mulheres das camadas populares. Elas deveriam ser diligentes, honestas, ordeiras, asseadas; a elas caberia controlar seus maridos e formar os novos trabalhadores e trabalhadoras do país. Àquelas que seriam as futuras mães dos líderes também se atribuía a tarefa de manutenção de um lar afastado dos distúrbios e perturbações do mundo exterior.
Embora a oligarquia desejasse modernizar-se, temia a modernidade com relação à educação de suas filhas, pois tinham que educá-las de acordo com as exigências do mundo moderno, mas levando em consideração que esta educação não poderia subverter a posição de subalternidade das mulheres. A educação dos internatos católicos era propícia para as intenções desta oligarquia.
Dentro da própria Igreja Católica havia uma divisão do clero: aqueles que se identificavam com o iluminismo e com o liberalismo; e aqueles conservadores, que condenavam em bloco a modernidade. Este clero conservador assumiu o controle da Cúria Romana durante o todo o século XIX e boa parte do século XX. Este movimento conservador recebeu a denominação de Ultramontanismo.
Segundo a interpretação do catolicismo ultramontano, o mundo moderno se constituía em um imenso perigo para a salvação da alma, porque se fundamentava na liberdade de pensamento e consciência, liberdade social e liberdade política. Em outros termos, o mundo moderno se desenvolvia sem obedecer aos preceitos católicos e controle da Igreja.(...)
O fortalecimento do clero ultramontano permitiu-lhe assumir o poder interno à Igreja e impor essa sua visão como válida para todo
o orbe católico. Ancorados na idéia de ser a Igreja portadora da Verdade, desde sempre estabelecida e claramente definida no Concilio de Trento, os ultramontanos julgaram que a salvação da sociedade em geral e do homem individualmente dependia de recristianização do mundo, tarefa, portanto, da exclusiva competência da Igreja. ( Manoel, 1996, pp.41-42)
O combate ao mundo moderno aconteceria através da censura da imprensa e da
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edição de determinados livros e, principalmente, através do investimento na educação. A educação de meninas e jovens fazia parte dos conceitos elaborados pela Igreja Ultramontana, pois as alunas poderiam ser, posteriormente, educadoras dos filhos e da sociedade conforme os princípios do catolicismo ultramontano. Esta educação
ocorreria nas escolas implantadas pelas diversas Congregações que aqui chegaram. Segundo Manoel (1996), a vinda das freiras se constituiu em uma etapa de um planejamento bem elaborado e em escala mundial. A necessidade de implantação das escolas confessionais não se restringia somente aos vultosos recursos financeiros arrecadados, mas também em afastar os educandos das idéias modernas e das propostas de ensino leigo. Particularmente no caso da educação feminina, o discurso ultramontano ia de encontro às ansiedades da oligarquia brasileira.
Em 1832, na Carta Encíclica Mirari Vos, o papa Gregório XIV apregoa os males da sociedade às novas idéias que estavam sendo colocadas nas academias e liceus, que “corrompiam os corações dos jovens”. Somente a fé nos legítimos soberanos da Igreja manteriam a ordem pública.
O clamoroso estrondo de opiniões novas ressoa nas academias e liceus, que contestam abertamente a fé católica, não já ocultamente e por circunlóquios, mas com guerra cura e nefária; e, corrompidos os corações dos jovens pelos ensinamentos e exemplo dos mestres, cresceram desproporcionadamente o prejuízo da religião e a depravação dos costumes. Por isso, rompido o freio da religião santíssima, somente em virtude da qual subsistem os reinos e se confirma o vigor de toda potestade, vemos campear a ruína da ordem pública, a desonra dos governantes e a perversão de toda autoridade legítima; e a origem de tantas calamidades devemos buscá-la na ação simultânea daquelas sociedades, nas quais se depositou, como em sentina imensa, quanto de sacrilégio, subversivo e blasfemo acumularam a heresia e a impiedade em todos os tempos. ( Gregório XIV, 1832)
Este discurso ultramontano vai sendo intensificado ao longo do século XIX. Com a Proclamação da República (1889), a religião católica deixou de ser oficialmente reconhecida no Brasil, cessando o regime de padroado e a Igreja ganhou mais liberdade com a sua dependência em relação ao Estado.
Segundo José Murilo de Carvalho, a Igreja “ reapareceu” na política quando surgiu em seu seio o movimento de reforma “ inspirado por Pio IX”- ultramontano. A sua participação tinha então um sentido totalmente diverso. Não era mais a participação dos padres na política, mas uma tentativa de definir uma política da Igreja diante do Estado. Esta tentativa levou ao choque da Questão Religiosa.
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Durante o Império o governo insistiu em não abrir mão do controle da Igreja, pois além de ser ela um recurso administrativo barato (os
párocos recebiam na década de 1870 um salário equivalente ao do proletariado burocrático), possuía grande poder sobre a população, de que o governo indiretamente beneficiava-se. Ao ser proclamada a República, foi eliminado o clero da burocracia mediante a separação da Igreja e do Estado. ( Carvalho, 2003, p. 187)
Como conseqüência dessa separação da Igreja com relação ao Estado é considerável o aumento de dioceses.“ De 1890 a 1900, as dioceses passaram de 12 para 19; de 1900 a 1910, de 19 para 41; de 1910 a 1920, de 31 para 59; e, de 1920 a 1930, de 59 para 88 dioceses.” ( Pe. MOURA, 2000, p.93) Ocorreu também um aumento considerável de congregações religiosas que vieram para o Brasil principalmente após o advento da República.
A partir de 1891, intensifica-se a vinda de religiosas estrangeiras, em sua maioria francesas e italianas. Entre 1872 e 1920, cinqüenta e oito congregações européias se estabelecem em terras brasileiras; outras 19 também são fundadas no Brasil por essa época. O trabalho educativo nos colégios, o cuidado com os doentes, das crianças e dos velhos em orfanatos e asilos constituirão suas principais atividades. ( Nunes, 1997,p.492)
Dentre as Congregações que chegaram em Minas Gerais, destacam-se primeiramente as Filhas de Caridade, que estabeleceram-se em Mariana (MG) junto com os lazaristas franceses no ano de 1849. Mariana era a séde do Bispado mais antigo de Minas Gerais. Logo abriram o Colégio Providência ( em funcionamento até os dias atuais). Estas freiras preocuparam-se desde o início em promover a educação para meninas de famílias abastadas, meninas pobres e também órfãs. No Relatório da Inspectoria Geral da Instrucção Publica da Provincia de Minas Geraes de 1882, podemos detectar a presença destes três tipos de “ alunas” entre as Filhas de Caridade, como se segue:
... Do collegio das pensionistas sahirão promptas no fim do anno lectivo 20 alumnas; matricularão-se este anno 125, entre as quaes 18 gratuitas, e se achão distribuidas por 4 aulas diferentes.
No Collegio das orphãs há 58 meninas desvalidas, que, com esmero, recebem instrucção e educação, e algumas das quaes já occupão cargos de magisterio na Privincia; só costumão sahir estas meninas casadas; tendo sahido do decurso do anno passado quatro, a cada uma das quaes, aféra todo o enxoval, a casa deo cem mil reis de accrescimo ao dote de outros fornecido pela Provincia. ... ( Carreira, 30/06/1882, p. 11)
Este pequeno trecho do Relatório nos diz algumas coisas importantes sobre este estabelecimento. Primeiro, havia uma subvenção do Estado para a manutenção da escola, por isso constar os dados no referido relatório. Tal subvenção era em troca do
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ensino gratuito para algumas alunas pobres ( totalizando 18, em 1882) e para a ajuda da manutenção das meninas “ desvalidas”. Além disso, percebe-se a preocupação com o casamento para estas últimas meninas, principalmente com a confecção do enxoval e o fornecimento do dote. Por outro lado, acentua-se a presença de dois grupos diferenciados: o das pensionistas ( com algumas gratuitas) e o das órfãs.
Percebe-se que as congregações religiosas femininas que se instalaram no Brasil a partir da segunda metade do século XIX tinham um caráter educativo para a elite, mas
também para as meninas pobres. As meninas pobres e, principalmente as órfãs, faziam parte de uma preocupação dos governantes como relatam diversos relatórios de Presidentes de Província e de Estado. O caminho utilizado para solucionar tal “problema” era , por diversas vezes, permitir e apoiar as Congregações religiosas que aqui aportavam. A Congregação Nossa Senhora de Sion não fugiu a este apelo.
A Irmãs francesas da Congregação Nossa Sra. de Sion chegaram ao Brasil em 1889, fundando o primeiro Colégio no Rio de Janeiro. Devido à epidemia de febre amarela naquela cidade foram para Petrópolis (1890). Fundaram depois os Colégios de São Paulo (1901), Campanha (1904), Curitiba (1906) e, por fim, Belo Horizonte (1944). Hoje ainda funcionam as unidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. A Congregação feminina foi fundada em 1842 pelo Pe. Theodoro Ratisbonne, um judeu convertido ao cristianismo em 1827. O primeiro Colégio Sion de Paris (1843) nasceu com a intenção de auxilio e conversão de meninas judias órfãs. Quando a Congregação chegou ao Brasil, quarenta anos depois, esta intencionalidade não foi posta em prática. Os colégios já foram fundados para atender às necessidades da elite. Também proporcionavam a educação de meninas pobres – chamadas Martinhas.
A implantação do Colégio Sion na cidade de Campanha foi uma proposta de alguns representantes políticos e religiosos da região. A Madre Superiora foi até Campanha para procurar um local adequado para instalar a nova escola. Foi escolhido um imóvel um pouco retirado da cidade, um palacete que pertencera ao Senador Evaristo da Veiga e onde, nos últimos anos século XIX, funcionara um Hotel Sanitário. Este era um local de descanso para curar pessoas com problemas pulmonares. O clima da região era considerado propício para a cura destas enfermidades, além da proximidade com as diversas fontes de água mineral ( Cambuquira, Lambari , Caxambu, etc.), tornava o prédio um espaço ideal para a implantação do Colégio.
A chegada das irmãs da Congregação de Sion ocorreu no início do mês de outubro
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de 1904, sendo que o início das aulas se deu no dia 16 deste mesmo mês, tendo 17 alunas matriculadas inicialmente. Em artigo do jornal “A Campanha” encontramos a necessidade da comunidade local em recepcionar as Irmãs, pois
O estabelecimento que ora se vai crear, tendo a sua frente a boa vontade e energia da illustrada Irmã Superiora, é, e ninguém de boa fé o contestará, um elemento poderosamente vital para o nosso organismo que definha e um magico propulsor para o nosso progresso e engrandecimento, retardados pela lethargia do mais criminoso descuido que nos tem assoberbado. (Mello, 19/09/1904, p.01)
O artigo acima citado demonstra a necessidade de implantar na cidade uma educação
que estivesse voltada para o desenvolvimento e o progresso da cidade. Tem até um caráter redentor contra a “ lethargia” presente na sociedade campanhense da época. A educação, neste momento, dialogava com o discurso político, atendia às suas necessidades, quais sejam: desenvolver determinadas aptidões para apreender o discurso da ordem e alcançar o progresso. A escola celebrava a política republicana através da divulgação de seu ideário, corporificando os seus símbolos e valores.
Dentro deste discurso republicano percebe-se a presença das festas. Estas corporificavam momentos de demonstrar o desenvolvimento, a técnica, a ordenação das alunas, propondo homenagens às autoridades locais e religiosas, integrando o universo
escolar à comunidade local. As festas “ tornavam-se momentos especiais na vida das escolas e das cidades, momentos de integração e de consagração de valores – o culto à pátria, à escola, à ordem social vigente, à moral e aos bons costumes.” ( Souza, 1998,p. 259) . Como deveriam ser momentos de integração, os jornais pesquisados relatam, com diversos detalhes, as principais cerimônias que aconteciam dentro do Colégio Nossa Senhora de Sion, ou que envolviam as Irmãs da Congregação, tendo destaque a primeira grande festa religiosa de Primeira Comunhão e Crisma, e as festas de conclusão do ano escolar.
Além da grandiosidade demonstrada através das festas, a monumentalidade do prédio também era relatada através de diversos editoriais. A arquitetura do prédio também dialogava com o discurso republicano. O espaço escolar passava a exercer uma ação educativa dentro e fora dos seus limites. Ele dialogava com o espaço urbano. Ele recebia em seu interior diversos símbolos: o relógio, o sino, as fitas, as cruzes, os boletins, etc.
“A arquitetura, enquanto expressão humana, nunca é arbitrária, casual, e sim uma linguagem orgânica aos valores e possibilidades de uma determinada
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sociedade.”(Nosella e Buffa, 2002, p. 42) A arquitetura escolar no início do século XX tem que demonstrar respeitabilidade, admiração , prestígio, labor e disciplina. A monumentalidade do Colégio Nossa Sra. De Sion pode ser percebido através do artigo publicado no jornal “União”, do Rio de Janeiro e, posteriormente, e publicado no “Monitor Sul - Mineiro”.
Foi nesta cidade que as religiosas de SION resolverão montar um
collegio modelo.
Em uma distancia de 10 minutos do centro ergue-se o palacete onde funcciona o collegio.
É um bonito edificio, moderno, com dois torreões, grande escadaria de entrada, jardim muito bem cuidado e parque immenso para recreio das meninas.
Fomos recebidos pela directora, que nos revelou de uma educação esmeradissima e de um trato delicadissimo. Percorremos todo o edificio, primando por toda parte asseio inexcedivel e ordem extraordinaria. Todo o edificio bem arejado e os dormitorios, com janellas para todos os lados são uma garantia para a boa saude das alumnas.( Costa, 14/10/1905, p. 01)
Esta preocupação com a higiene e com a saúde também faz parte do discurso republicano. O ambiente escolar tem que demonstrar a ordem da missão civilizadora republicana através das condições ideais de ar, luz, mobiliário e postura dos alunos. Neste contexto, aliam-se com a mesma intencionalidade educadores, médicos higienistas e políticos. A preocupação com a higiene escolar reforça valores morais relativos a padrões comportamentais ditos “ civilizados”. “ A decisão de instalar escolas encontra-se visceralmente ligada às condições físicas do lugar em que deveria funcionar, isto é, as condições topográficas, climáticas, sanitárias, atmosféricas, de iluminação, de salubridade, das águas e de proximidade ou não das aglomerações urbanas.” ( Gondra, 2000, p. 528). A arquitetura do prédio enquanto espaço de “ civilidade” e “ higiene” pode ser percebida na seguinte foto do início do Colégio, de meados do ano de 1905.
Figura 01
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Esta é a primeira foto encontrada com as “ Meninas de Sion” na frente do prédio do antigo Hotel Sanitário. Quando o Colégio foi fundado em 1904, matricularam-se 17 alunas, número inferior ao número de alunas presentes na foto. Segundo o diário da
primeira superiora do Colégio2, o prédio passou por uma reforma em meados de 1905 para a comstrução da Primeira Capela, local que não consta na foto acima. Posteriormente , o prédio passará por outras grandes reformas: uma delas terminada em 1909 para a construção de novas salas de aula e dormitórios para as internas.A estrutura do prédio ficou da seguinte forma:
Figura 02
A imagem acima faz parte de um pequeno álbum de fotos do Colégio que servia para divulgar o Colégio no ano de 1912. Ao longo do tempo foram feitos outros acréscimos ao prédio, principalmente com relação ao jardim frontal, cuja rua que passava defronte foi adquirida pelas irmãs ao poder municipal e a construção da segunda Capela, idêntica à Capela do Sion de Paris, nas comemorações dos 25 anos do Colégio em 1929. Houve ainda uma outra grande reforma terminada em 1948 para a construção de um grandioso Salão Nobre e quartos individuais para as normalistas.A estrutura final do prédio compreendia o seguinte espaço :
Figura 03
2Acervo particular da Congregação de Nossa Senhora de Sion , Campanha/MG
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Todo este grandioso espaço necessitava de um aparato de funcionários, de algumas freiras e do trabalho das Martinhas para a sua limpeza e a ordem pregada na Instituição. As freiras praticavam também a “boa” ação de “educar” meninas pobres - a maioria da zona rural da cidade de Campanha e da região – em sua instituição. Estas meninas eram chamadas de “Martas”,“Martinhas” ou “Petites Marthes”, fazendo uma analogia à figura de Santa Marta do Novo Testamento, hospedeira de Cristo e que ficava trabalhando na limpeza da casa...
Tais meninas viviam também internas no Colégio Sion e, em troca do ensino “esmerado” que recebiam, ajudavam na limpeza do prédio. Era comum também a presença de “Martinhas” nas demais escolas mantidas pela Congregação no país.
As “Martinhas” realizavam diversos serviços dentro do Colégio: trabalhavam na rouparia, na limpeza dos quartos e banheiros, na cozinha, etc..O tempo de trabalho ao longo do dia era superior ao tempo de estudos, pois as mesmas dedicavam, em média, apenas três horas diárias para esta última atividade. Os espaços ocupados por elas também eram diversos com relação aos espaços ocupados pelas “Meninas de Sion” – os dormitórios, o refeitório, os banheiros e até as salas de aula eram separados. Tem-se que ressaltar também que não poderia haver contatos entre as “Meninas de Sion” e as “Martinhas”.
Através do levantamento de fontes (algumas fotografias, cadernetas de anotações das irmãs, cadernetas de notas e relatos orais) podemos notar que as a presença das “Martinhas” e a relação com as freiras podem ser distinguidas em duas fases: da instituição da escola até meados da década de 40; e deste momento até o fechamento do Colégio.
A primeira fase é caracterizada por uma educação voltada para a instrução moral destas meninas. Através de relatos descobrimos que as freiras tinham a preocupação em trabalhar questões de cunho moral, mas não o ensino formal.
Também através do levantamento de uma caderneta (1936 – 1937) descobre-se que as “Martinhas” eram avaliadas através do comportamento no universo de seu trabalho e da sua conduta moral: era registrado semanalmente na caderneta, se a menina merecia o conceito ótimo, bom, regular, ou se havia quebrado algum objeto (xícaras, tigelas,etc.) em seu serviço, ou se não merecia a cruz. Este tipo de castigo simbólico, de não poder portar a cruz no pescoço por uma semana, também servia para as “Meninas de Sion”, dessa forma toda a comunidade escolar ficava sabendo quais eram as pessoas que
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haviam cometido alguma falta.
A segunda fase instaura-se quando a diretora do Grupo Escolar da Campanha passa a oferecer o Ensino Primário para as “ Martinhas”( década de 1940). São montadas duas salas de aula: uma que oferece o ensino relativo à 1ª. E 2ª. Séries; e outra que contempla a 3ª. E 4ª. Séries. A partir deste momento estas meninas passam a receber um ensino formal público, que utiliza o espaço privado do Colégio Sion. As irmãs continuam utilizando o serviço doméstico das “Martinhas”, talvez justificado como uma forma de pagamento pela hospedagem.
Sabe-se que as vagas para as “Martinhas” no Colégio Sion eram concorridas. Entre os anos de 1905 e 1945, passaram pela Instituição 481 meninas, o que dá uma média de 12 ingressantes por ano. Não foram encontrados os dados relativos aos anos de 1946 a 1965. Várias “Martinhas” ficavam vários anos na Instituição. Mas também percebe -se alguns casos de meninas que ficaram dias, semanas ou poucos meses, talvez não conseguindo passar pela fase de adaptação à rigidez e disciplina do Colégio.
Algumas “Martinhas” demonstraram vocação religiosa e tornaram-se freiras “de côro”, depois de ordenadas ficavam coordenando o serviço e orientando as novas “Martinhas”. Tais freiras distinguiam-se das demais através da diferença no hábito e por não poderem lecionar para as “Meninas de Sion”.Eram freiras que trabalhavam nos serviços domésticos. Não somente o hábito das freiras “mestras” ( consideradas méres/ mães) e das freiras de “côro” ( consideradas soeurs/ irmãs) diferenciava-se, mas também os uniformes das ' Meninas de Sion” com relação às Martinhas. É visível a diferença da riqueza dos uniformes através das fotos:
Figura 04 Figura 05
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As “ meninas de Sion” também participavam da “ordem” através do seu vestuário. O uniforme não distinguia nenhuma delas dentro da comunidade escolar, somente pelas cores das faixas que distinguiam as turmas, mas era, por outro lado, motivo de distinção em relação à sociedade local. Ser uma sionense era motivo de orgulho, uma forma de pertencimento à elite local. O uniforme e o enxoval deveriam ser padronizados, segundo os costumes da época, como aponta o primeiro anúncio do Colégio publicado no Monitor Sul - Mineiro:
Para uniformidade do vestuario collegial, serão fornecidos pelo estabelecimento, à custa dos Paes, os vestidos, chapéos e capas. (...)
As meninas deverão Ter os objetos designados na lista seguinte, cada um marcado com seu numero:
10 camisas, 4 ditas de dormir, 2 ditas para banho, 2 saias brancas, 2 saias de chita de côr, 12 pares de meias pretas, 10 calças, 3 camisas de meia, 1 collete, 12 lenços, 6 guardanapos grandes, 5 lenções ( comp. 2,50; larg. 1,50), 6 fronhas ( comp. 0,65; larg. 0,40), 6 toalhas de rosto, 2 toalhas para banho, 3 colchas brancas com franjas ( comp. 2,15; larg. 1,50), 2 cobertores, 1 roupão para dormitório, pentes, escovas e duas esponjas, 3 pares de botinas pretas, 1 talher e 1 copo. ( Costa, 16/10/1904. p.02)
O contato familiar acontecia em um curto período do dia. Qualquer transgressão na pontualidade implicava sanções, como podemos observar no mesmo anúncio para os interessados na meia pensão:
A meia pensão é de 80$000 por trimestre. As meninas devem estar no collegio, todos os dias, antes das 8 horas da manhã: tomão suas refeições no collegio e saem às 6 horas da tarde.
Nos Domingos e das santificados, elas devem vir às 7 1/2, porém sahem às 10 1/2.
Pede-se a mais extricta exactidâo, sob pena de perderem as notas e condecorações. ( Costa , 16/10/1904,p.02)
Tal rigidez e sanção aplicam-se também para as internas, como atesta ainda o mesmo anúncio de jornal:
Os Paes poderão visitar suas filhas às quintas-feiras, das 2 às 3 horas da tarde e nos domingos, do meio-dia às 3 horas da tarde.
As sahidas effectuar-se-ão no primeiro Domingo de cada mez, às 8 1/2 horas da manhã. As alumnas deverão estar de volta no Collegio no mesmo dia, antes das 7 horas da noite ou na Segunda-feira, antes das 8 horas da manhã. A falta de comparecimento a hora indicada importa para a alumna a perda das notas e de qualquer distincção durante o mez.
Os mezes de Junho e de Dezembro são feriados. Não há férias durante a semana santa. ( Costa, 16/10/1904,p.02)
Salienta-se a necessidade de haver o mínimo de contato possível entre as meninas e seus familiares. O ambiente escolar tornava-se o responsável pela melhor educação e disciplina, onde pregava-se a necessidade de um afastamento do mundo externo e
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reclusão no universo feminino escolar. As meninas entregues às freiras receberiam uma educação “completa”, sendo preparadas para serem futuras mães, integradas na
sociedade moderna, como atesta o seguinte artigo, publicado no Monitor Sul-Mineiro logo após a abertura do Colégio:
Os pais de familia, que entregarem suas filhas às illustres e virtuosas professoras que este instituto possue, podem ficar absolutamente tranquillos, quanto à perfeição do ensino que a ellas será ministrado, e quanto às condições de severa moralidade, ordem, delicadeza e carinho que caracterisão o collegio.
A recommendeção que fazemos deste importante estabelecimento não é de modo algum um favor aos que o dirigem, e sim especial o obsequio aos pais de familia, que desejarem para suas filhas uma educação completa, baseada nas conquistas modernas, e que as tornem, sob todos os pontos de vista, ornamentos dos lares e da sociedade, onde todas tem de representar amanhã importantes papeis. ( Costa , 23/10/1904,p.01)
Estes futuros papéis femininos são demonstrados claramente neste ponto do artigo, serão “ornamentos dos lares” e da sociedade, preparando para futuros papéis de destaque no seio familiar e social, como boas mães e esposas. As disciplinas oferecidas também estão voltadas para este futuro. A educação compreendia a transmissão do conhecimento e também de valores e normas. Para tanto, podemos perceber neste trecho de outro anúncio de propaganda do Colégio no Monitor Sul - Mineiro :
Além da educação e instrucção que se não dá melhor, nem mais perfeita em parte alguma, as alumnas gozão ainda da vantagem dos exercícios physicos, que favorecidos pelo clima, as tornão sadias, fortes e robustas.
Como seria bom que os pais que têm amor a esses entesinhos fanados pelo viver da cidade, os mandassem buscar vida physica e moral nesse celleiro do bem.
O collegio apezar, de ainda não ter um anno de existencia, como dissemos, conta cincoenta alumnas, o que prova a confiança que elle soube inspirar.
O programma dos estudos comprehende todas as materias ensinadas nos principaes internatos da Europa.
Curso elementar: Leitura, Escripta, Arithmetica, Historia Sagrada, Geographia, Portuguez, Francez, Desenho Linear, Piano, Solfejo, Trabalhos de Agulha.
Curso médio: As mesmas materias do ensino e mais: História do Brazil, História Antiga e da Idade Média, Principios de Litteratura, Língua Ingleza ou Allemã, Sciencias Naturaes, Desenho ( de reprodução). ( Costa, 14/10/1905,p.01)
Os “ entesinhos” entregues às Irmãs de Sion, recebiam o ensino considerado “completo” para a sua época, nos moldes europeus. Além de receber aulas de educação física, compatível com o discurso higienista de sua época, tinham também aulas de competências básicas de leitura, escrita e cálculo; diversas matérias de natureza
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científica e aquelas de formação moral, cívica e instrumental.A educação física esteve presente desde o início do Colégio, sendo praticada ao “ar livre”, entre as diversas alamedas do seu imenso terreno, espaço perfeito para os preceitos higienistas da época.
Na caderneta de fotos / propaganda de 1912, encontramos a seguinte foto:
Figura 06
A Gymnastica era essencial para o treinamento das alunas e para a obediência dentro da ORDEM estabelecida na escola. Também preparava os seus corpos para as suas futuras funções de esposas e mães. “ O exercício físico era, objetivamente, mais um valioso canal para a medicalização da sociedade. Era becessário adequá-lo, discriminá-lo por idade e sexo, atendendo, assim, exclusivamente ao reconhecimento da existência das diferenças biológicas das crianças.” (Soares, 2004, p. 81)
A escola deveria compreender três elementos fundamentais: a classificação dos alunos, um plano de estudos e uma forma mais racional de como empregar o tempo. A classificação dos alunos acontecia no momento em que as notas eram lançadas como: Distinção ( D), Plenamente ( P) e Simplesmente ( S). A quantidade de distinções tornava possível veicular o nome do aluno gradativamente. As notas de uma determinada turma não eram lançadas de forma alfabética, como nos dias atuais, mas de forma a contemplar no topo da lista a aluna que obtivesse uma maior quantidade de distinções.O plano de estudos e o tempo eram divididos de forma regular ao longo do dia, com tempos precisos para os estudos, a alimentação, a recreação e a religião.
A idéia de civilidade presente tanto no discurso político quanto no educacional no final do século XIX e início do XX, é responsável em intensificar a necessidade de uma educação feminina. Durante o período colonial e imperial brasileiro, as mulheres eram educadas no seio familiar. A educação formal era permitida a poucas. Quanto mais reclusas estivessem, menos tentações e menos conhecimento do mundo teriam e, portanto, melhor esposas seriam para seus futuros esposos.
A necessidade inicial de educar formalmente as meninas não está dentro de uma
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perspectiva de preparação e instrumentalização destas para ganhar o seu espaço na sociedade. Continua ainda dentro da perspectiva de prepará-las para o casamento, mas enquadra-se à necessidade de educá-las nos moldes formais para capacitá-las dentro das
novas regras do mundo republicano.
Na realidade, o fim último da educação era preparar a mulher para atuar no espaço doméstico e incumbir-se do cuidado com o marido e os filhos, não se cogitando que pudesse desempenhar uma profissão assalariada. A mulher educada dentro das aspirações masculinas seria uma companhia mais agradável para o homem que transitava regularmente no espaço urbano, diferentemente do período colonial com seu recolhimento e distanciamento do espaço de sociabilidade. “ ( Almeida, 1998, p. 19)
Esta passagem da educação familiar para a educação formal, pode ser percebida no seguinte artigo do Monitor Sul - Mineiro:
“ Realmente não é sem embaraços e profundos receios que um pai, digno desse nome, entrega um filho ou uma filha, a quem elle se habituou a cercar de carinhos e amor, de ternuras e cuidados, de solicitude e interesse ininterrompido, a um preceptor estranho, que vai continuar o delicado trabalho iniciado no lar paterno, dando luzes à intelligencia que começa a expandir-se, dando forças ao caracter que inicia sua formação, dando energias à consciencia que surge, e que será amanhã a base em que descansa toda a felicidade da vida.
Na propria casa da familia não se consegue realisar completamente o preparo intelectual e moral que exige a adolescencia.
Não é possivel haver em meio dos trabalhos caseiros, tantas vezes perturbados por distracções e entretenimentos devaria especie, essa regularidade imprescindível que offerecem os institutos de educação e ensino, quando dirigidos por pessoal de notoria aptidão.
Eliminado, pois, o ensino no lar, impôs-se a necessidade de buscá-lo fora, e, reconhecido o perigo de obtel-o máo e deficiente, fica patente a enorme e feliz vantagem de encontral-o em pessoas de indiscutivel competencia e de provado saber.
É esta a condição auspiciosa e tranquilisadora em que temos a ventura de achar-nos.
O COLLEGIO DE SIÃO, fundado na Campanha, é um estabelecimento de instrucção do mais alto e precioso valor, com seus creditos invejavelmente firmados, e de singular e raro merecimento.(Costa, 23/10/1904,p. 01)
O ensino feminino devia deixar as “distrações” e “entretenimentos” do lar , lugar onde não seria possível realizar completamente a educação moral, tão necessária para as adolescentes da época. A forma ideal seria deixá-las totalmente fora do convívio familiar. Por isso, o Colégio Nossa Sra. De Sion de Campanha já começou a funcionar com alunas internas e “ semi-internas”. Este tipo de ensino era apregoado pelo discurso ultrmontano da Igreja Católica, em conformidade com os anseios liberais para definir o lugar da mulher no novo espaço social que estava sendo estabelecido. O ensino
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confessional, interno, tanto para meninas pobres ( Martinhas) , quanto para as ricas ( Meninas de Sion) , ia de encontro a estes anseios.
Referências Documentais:
Figura 01: FARNIER, Etienne. Primeira foto de alunas em frente ao Colégio Nossa Senhora de Sion de Campanha. c. 1905. Acervo Centro de Memória Cultural do Sul de Minas, UEMG/ Campanha
Figura 02: LOPES, Paulino de Araújo Ferreira. Parte frontal do prédio do Colégio Nossa Senhora de Sion de Campanha. 1912. Acervo Centro de Memória Cultural do Sul de Minas, UEMG/ Campanha
Figura 03: LOPES, Paulino de Araújo Ferreira. Vista aérea do prédio do Colégio Nossa Senhora de Sion de Campanha. c. 1948. Acervo Centro de Memória Cultural do Sul de Minas, UEMG/ Campanha
Figura 04: LOPES, Paulino de Araujo Ferreira. Alunas não identificadas nos jardins do Colégio Nossa Senhora de Sion de Campanha. S/d. Acervo da Congregação Nossa Senhora de Sion de Campanha/MG
Figura 05: LOPES, Paulino de Araujo Ferreira. “ Martinha” Naiufe Bueno Costa. c. 1934. Acervo da Congregação Nossa Senhora de Sion de Campanha/MG
Figura 06: LOPES, Paulino de Araujo Ferreira. Alunas fazendo gymnastica na Alameda dos Eucalyptos. 1912. Acervo da Congregação Nossa Senhora de Sion deCampanha.
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COSTA, José Pedro da . Collegio de Nossa Senhora de Sião. In: Monitor Sul – Mineiro. Campanha, MG: Typographia do Monitor, 23/10/1904. Acervo Centro de Estudos Campanhenses Monsenhor Lefort, Campanha/MG
COSTA, José Pedro da . Um Collegio Modelo. In: Monitor Sul – Mineiro. Campanha, MG: Typographia do Monitor, 14/10/1905. Acervo Centro de Estudos Campanhenses Monsenhor Lefort, Campanha/MG
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